26.6.05

"Se se morre de amor ."

a minha boca sangrava .
E como num impulso cuspi todo aquele sangue .
E cuspia e cuspia e cuspia .
e saia, como vômito .
O meu corpo rejeitava seu sangue .
O sangue morto . coagulado, já . aglutinado .
jorrava, como jorram agora pelos meus dedos .
este sangue é o que dá vida às letras .
saia, como grito . gradativo, aumentando de volume . até cessar de uma vez .
daquele sangue restou somente a dor . latejada .
um pedaço de mim, arrancado de mim . por mim .
mas não morri por completo .
que venha o sangue novo,
que venha à boca para me fazer sorrir .
e que não jorre nunca mais .
Se se morre mais uma vez, digo que morro junto, jorrando .
me vejo livre deste mundo em que estou coagulada .
não terei ouvidos pra ouvir
nem mente pra voar
nem vida pra acabar
nem dedos pra jorrar
o sangue vai morrer e me matar .

posted by Karina at 7:48 AM

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