4.8.05

As viagens que o ônibus faz

O post inicia-se sem um início . Não sei como fazê-lo .

E as duas comadres revezavam o lugar ao meu lado . Fofocavam, falavam mal de pessoas que desconheço, falavam das crianças, do ônibus, do tempo . E reclamavam, acima de tudo . O restante do ônibus era barulhento também . Desisti da leitura . Isso me emputeceu .

A conversa prosseguia precária . Minha cabeça voltou-se para a janela . Tecla SAP da linguagem do corpo: “Se pudesse estaria lá fora” .

Olhei e logo ao lado havia a obra de arte de Deus . Ele, que só tinha nas mãos o vermelho-sangue e o azul do céu, pintou todo aquele quadro num degradé que vinha de baixo para cima . O nome da obra era Pôr do Sol .

Pensei: “Tiraria uma foto neste momento” . E talvez a emoldurasse, para que se tornasse um quadro, materialmente . Mas no mesmo instante pensei que a foto seria por demais feia, com tantos fios e prédios e automóveis e luzes dos postes urbanos que ofuscavam o espetáculo do astro Rei (apesar de não tê-lo visto .) Ele já estava além do horizonte . Para trás deixou só o seu rastro vermelho . E algumas estrelas o seguiam mais acima .
Voltei-me para dentro do ônibus . As duas ainda tagarelavam . E pedi que a imaginação me levasse para bem longe dali .

E este foi o fim .

“De tanto imaginar loucuras ... no chão, no mar, na lua”

Mania de Você – Ná Ozzetti LoveLeeRita

posted by Karina at 4:54 PM

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