7.3.06

Alugam-se quartos e corações partidos

“Está claro ...” disse à mãe .

“Eu penso que meu quarto tem que ser grande, do tamanho de minha dor . Quando, por exemplo, eu chegar enfurecida por qualquer motivo e bater a porta querendo me trancar no recinto, é ali que vai ter que caber toda a minha fúria . Ou a minha alegria . Ou o que quer que seja . Senão explodimos eu, e as paredes junto .
“E outra: quarto só é quarto quando é isolado . Não o divido com ninguém . Quarto é que nem certas parte do corpo que a gente não mostra . O rosto, as mãos, os joelhos a gente mostra sem problemas . Assim como as visitas têm acesso à sala, à cozinha ou ao lavabo . Mas no quarto bagunçado ninguém entra . Quarto é igual ao coração que fica lá, trancado dentro das costelas, numa confusão só, sem ver nem ser visto, batendo e apanhando . O meu é egoísta que só ele, não quer se partir mais por ninguém ... E meu quarto tem que ser igual .”

p.s. em breve, mudo-me .

Quando eu vi
que o Largo dos Aflitos
não era bastante largo
pra caber minha aflição,
eu fui morar na Estação da Luz,
porque estava tudo escuro
dentro do meu coração.


Augusta, Angélica e Consolação - Tom Zé

posted by Karina at 3:36 PM

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