3.3.06

Senha 41, guichê 4

O número que brilhava agora no telão do cartório era o mesmo que estava impresso no bilhete entre as mãos molhadas da moça .
Ela se dirigiu ao guichê indicado .

- Uma autenticação, por favor – pediu com a voz sumida, sem olhar para quem .
A mulher do lado de lá das grades pegou a xerox sem nem ver a moça também e foi adentrando o seu recinto apertado, enquanto dizia:
- Pague tal taxa no caixa ao lado e retire aqui .

A moça, tomada de euforia, correu ao caixa já com seus R$1,70 nas mãos, suados de tanto esperar . Iriam mesmo autenticá-la ...! Ao entregar a última moeda ao homem careca que registrava a quantia, ouviu alguém chamar:
- Moça ! Venha aqui ...!
Era a mulher sem rosto do guichê 4 . E ao aproximar-se ...
- Cadê o original ?
- Eu ... não trouxe .
- Então vá buscar .
- Eu ... moro longe daqui .

A mulher olhou como se estivesse surpreendentemente interessada na moça:
- Receio que terá de voltar uma outra hora ... – disse, ainda sem desviar o olhar .
- Volto amanhã .

A moça se foi . Pegou seu ônibus, como era de costume . Trabalhou, como fazia todos os dias . Dormiu . Acordou, como sempre . E foi ao cartório .

- Eu perdi meu R.G. original .
- Neste caso ... teremos que destruir a sua xerox . E lhe devolveremos o dinheiro .

A moça pensou ter visto um leve sorriso perpassar os lábios finos da mulher atrás do guichê . Recebeu as moedas sujas do mesmo homem careca, e foi-se .

Estivera tão perto de forjar sua idade ... E enquanto secava as mãos, pensava de que outras formas poderia persuadir os adultos a dividirem seu mundo com ela .

Se me permitem uma explicação: o baile, a se realizar no dia do aniversário da referida moça, tem acesso negado a menores .

posted by Karina at 6:53 PM

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